segunda-feira, 18 de junho de 2007

Champinha, o retrato do mal

Roberto Aparecido Alves Cardoso, conhecido como Champinha, nasceu em Embu-Guaçu, em 9 de dezembro de 1986. Ficou conhecido em 2003, aos dezesseis anos de idade, quando assassinou a tiros e facadas o casal de estudantes Liana Friedenbach e Filipe Caffe, depois de estuprar e permitir que outros comparsas estuprassem Liana.
Pobre e filho de pai alcoólatra, Champinha estudou apenas até a terceira série do ensino básico. Durante boa parte da infância e da adolescência, passava o dia ajudando a mãe na lavoura. Quando as convulsões que começou a ter aos 14 anos se agravaram, principalmente pela falta de medicamentos, resolveu sair de casa. Passou então a viver largado pelas ruas de Embu-Guaçu, pedindo dinheiro nos semáforos da cidade e prestando serviços a quadrilhas que atuavam em desmanches de carros roubados.
Aos 14 anos, matou a tiros e facadas um caseiro, conhecido por Bin Laden, em uma discussão fútil pela posse de uma galinha, mas este fato permaneceu ignorado até a morte de Liana e Filipe.
Sempre com um facão na cintura, ele se impunha na região pelo medo que transmitia aos vizinhos. Assaltava e não ficava satisfeito em levar carteiras, bolsas e relógios. Aterrorizava suas vítimas fazendo roleta-russa – colocava a arma na cabeça da pessoa, girava o tambor com apenas uma bala e depois apertava o gatilho. Chegou a cortar parte do dedo de um comerciante que se recusou entregar o dinheiro do caixa durante um assalto.

O assassinato dos estudantes

Em novembro de 2003, Champinha e Paulo César da Silva Marques, o Pernambuco, seguiram para pescar na região quando viram o casal Liana Friedenbach, dezesseis anos, e Filipe Silva Caffé, dezenove anos, que, sem o conhecimento de suas famílias, acampavam no local. Quando viu Liana, Champinha disse para Pernambuco: Olha que menina gostosa. Teve aí a idéia de roubar os estudantes. Com a ajuda de comparsas, manteve o casal em cárcere privado, quando estuprou e permitir que estuprassem Liana. Onde também a torturou, arrancando seus mamilos a dentadas e enfiando uma faca em seu ânus. A seguir, matou Felipe com um tiro na nuca e, na madrugada do dia 5 de novembro, levou Liana até um matagal, onde tentou degolá-la. Depois golpeou a cabeça da estudante com uma peixeira. Quando ela caiu no chão, já morta, o adolescente ainda desferiu diversos golpes nas costas e no tórax da menina. Para concluir o ritual de sadismo, violou sexualmente o corpo de sua vítima.
Os corpos foram encontrados no dia 10 de novembro. Champinha e seus comparsas – Pernambuco, Antônio Caetano, Antônio Matias e Agnaldo Pires – foram presos dias depois. Champinha, por ser menor, foi encaminhado a uma unidade da Febem, em São Paulo. Ao final das investigações, a polícia concluiu que Pernambuco não teve participação no crime.

Internação na Febem

Champinha permaneceu internado na Febem até dezembro de 2006, pois, ao completar 20 anos, não poderia permanecer em local de internação de menores, segundo a lei brasileira.
Enquanto esteve internado, Champinha transitou constantemente entre diversas unidades da Febem. O rodízio teve o propósito de preservar a vida do menor. Desde o crime na cidade de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, ele foi jurado de morte pelos próprios internos da instituição. As sistemáticas mudanças de uma unidade para outra o tornavam um novato onde chegasse. Levava sempre algum tempo até que os companheiros de reclusão descobrissem quem ele é e o que fez. Sua última internação foi na unidade da Raposo Tavares, onde se encontram os infratores de maior periculosidade.
Ao final do período de internação, esteve a ponto de ser posto em liberdade, tanto que sua família preparou uma casa no interior de Minas Gerais para recebê-lo - afinal, está jurado de morte também em Embu-Guaçu, onde morava.
Laudo elaborado por psiquiatras da Febem chegou a afirmar que seu comportamento é exemplar. Os peritos disseram que ele era um dos melhores alunos nas aulas de artesanato, apresentava avanços nas aulas de matemática e, sendo uma rapaz educado, nunca se meteu em confusão. Concluíram que apresentava apenas um retardamento mental moderado e que foi coagido a cometer os assassinatos.
Dias depois de apresentado o laudo, o próprio Champinha demonstrou o equívoco de suas conclusões: uma educadora de Febem se distraiu no meio do pátio e ele passou a mão em sua genitália. Indignada, ela o esbofeteou. Champinha tentou revidar, mas foi contido por monitores. Até os outros internos desaprovaram publicamente a atitude do companheiro.

Laudo do IML

O juiz da Vara da Infância e da Juventude não aceitou o laudo da Febem e determinou que outro fosse feito por psiquiatras forenses do Instituto Médico-Legal. Este laudo chegou a uma conclusão bem diversa.
De acordo com os especialistas do IML, Champinha revela uma personalidade imatura e egoísta. Suas vontades estão acima de tudo e de todos, não aceita esperar nada, quer todas as gratificações e satisfações do desejo imediatamente. Age por impulso. Não se importa com as conseqüências de seus atos. "É pessoa que, pelo distanciamento afetivo e emocional que toma frente ao mundo e principalmente frente aos demais, atua de forma arrogantemente impositiva quando lhe convém, e até simbiótica, juntando forças e atos irracionais para obter o que deseja, sem dilema e sem culpa", conclui o laudo.
É também dissimulado. Durante a avaliação psicológica e psiquiátrica, foram mostradas fotografias dos corpos de suas vítimas. A moça estava toda machucada. Champinha virou a cara. "Não quero ver. Não gosto de ver mortos". E fingiu chorar por um tempo. Eram falsas lágrimas, de acordo com o laudo.
Quando este laudo foi publicado, os psiquiatras da Febem tentaram justificar o laudo anterior, alegando que ignoravam crimes cometidos por Champinha, anteriormente ao assassinado de Liana e Filipe, e o fato de ter sido provada inocência de Pernambuco, antes apontado como a pessoa que havia coagido o menor a praticar os crimes.
Ao acatar as conclusões do laudo do IML, o juiz ordenou a internação de Champinha, por tempo indeterminado, na clínica psiquiátrica do Hospital de Tratamento e Custódia, na Capital paulista.

Fuga da Fundação Casa

No dia 2 de maio de 2007, Champinha foge da unidade Tietê da Fundação Casa (ex-Febem), na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo. A fuga ocorreu por volta das 18h, Champinha escapando com pelo menos um comparsa. Ambos escalaram o muro de sete metros de altura utlizando-se uma escada.

Recaptura

Na madrugada do dia 3 de maio, Champinha é recapturado pela polícia em Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo), onde ele se escondeu na casa de uma tia de um adolescente de 17 anos, que fugiu com ele. Champinha chegou a ligar para a sua família, pedindo dinheiro para a fuga.

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